Em busca do Amor eu perambulei longe e vasto,
De pensamento em pensamento e de medo em medo eu fui.
Até a incansavel instancia do orgulho tolo,
Miríades de momentos sem rumos eu gastei,
Até que ví nos olhos daquele que viu
A maravilha da luz do Amor em sua face,
E do seu olhar, tres pistas vislumbrei,
Tres gemas que apontam para nossa suave graça:
- A primeira, é que “Eu” nunca poderei ir lá;
- A seguinte, que o orgulho do Amor deve ser extinto;
- A ultima pista, encontra-se enterrada dentro de mim...
Enquanto “Eu” continue a existir,
O sol que procuro estara sempre encoberto
pelas nevoas de mim mesmo!
Na verdade, todas as doutrinas e religiões têm em seu núcleo as mesmas assertivas. Afinal, não poderia ser diferente, pois foram místicos videntes que as iniciaram, baseados, muito provavelmente, nas mesmas visões.
Para ilustrar, reproduzo aqui alguns trechos compilados por Huxley, de escritos místicos e das grandes religiões que mostram o que é o mundo para elas, e como vêem o homem perante Deus.
Sei que alguns leitores começarão a achar este capitulo chato ou religioso demais, mas, peço um voto de confiança e um esforço para lê-lo, pois é de extrema importância para a sedimentação de alguns conceitos.
Outros leitores, mais religiosos ou mais crentes, se deliciarão com o conteúdo.
As máximas a seguir são dos Vedas, Upanishads, Bhagavad Gita, Tao, Cristianismo, Judaísmo, Islamismo, Sufismo e Zen-Budismo.
Outro trecho dos UPANISHADS:
“Preenchidas totalmente com Brahman estão as coisas que vemos”,
Preenchidas totalmente com Brahman estão as coisas que não vemos,
De Brahman flui tudo o que existe:De Brahman flui tudo - todavia ele ainda é o mesmo.
OOOOOMMMMMM... ““.
Por estes trechos podemos ver com certa clareza que Brahman permeia a tudo, mas, ao mesmo tempo, ele ainda continua o mesmo, inteiro, sem se alterar. Como é possível? Graças ao truque de pisca-pisca de Mahâbindu descrito anteriormente. Os estudiosos chamam a isto de Panteísmo, ou seja, Deus não está fora do mundo como criador, mas, faz parte do mundo com sua própria essência.
BHAGAVAD GITA
Trata da Filosofia Pantajali, Kapila e dos Vedas.
“Sabe que o Ser Absoluto, de que todo o Universo tem o seu principio, está em tudo, e é indestrutível.
Fica claro, na explicação de Krishna, que nossa consciência, parte de Shiva, é imortal.
TAO
Abro aqui um parêntesis para entendermos o que é a palavra. Todos concordam que o homem, assim como os animais, viveu muito tempo sem falar. A comunicação naquela época, embora mais primitiva, era mais verdadeira, limitando-se ao essencial, com certeza. A mimica foi inicialmente a única forma de comunicação, junto com gritos e grunhidos.O uso da palavra foi um salto maior do que possa parecer. A palavra só pôde ser usada quando o homem aprendeu a entender um simbolo. Um simbolo é um som ou imagem que transporta o ouvinte para um nível de entendimento a que este som ou imagem esteja conectado previamente, em comum acordo com o resto do grupo. Ou seja, o simbolo pode não ter muito ou nada a ver com o entendimento a que se refere, desde que previamente combinado entre os parceiros, ele irá remeter o ouvinte à compreensão do que se queria comunicar.
É logico e sabido que a etimologia das palavras mostra que elas são símbolos que tinham alguma coisa a ver com o significado a que se propunham comunicar. Mas não deixam de ser símbolos, ou seja, são indicações indiretas da realidade.
Num estado destes a mente está vazia de conhecimento, mas é capaz de expressar qualquer conhecimento ou aprender qualquer coisa a qualquer instante. É um estado de pura alegria e contentamento sem necessidade de ser acompanhado de nenhuma emoção. Os recém-nascidos estão neste estado até o momento em que seus corpos começam a reclamar de comida para sobreviver. Quando você morrer você vai retornar a este estado. Na verdade você esteve sempre neste estado sem saber, porque você estava sempre preocupado em aprender e entender.
Continua Lao Tzé:“Ao procurar água, fique perto da terra.
Ao pensar, se limite ao simples.
Ao governar, não tente controlar.
No trabalho, faça o que gosta.
Tzé orienta a viver o simples agora, sem conjecturas futuras ou passadas, no sentido de provar e degustar o momento, o que é o objetivo de Brahman.
É especial o conselho: “...ao governar não tente controlar...”, que segundo as mais modernas e revolucionarias técnicas de administração, criadas na Industria automobilística e eletrônica do Japão dos anos 60, diz o seguinte:
É mais eficaz mudar um processo, estabelecer um novo processo, do que tentar controlar as pessoas pela força, sem alterar o processo. O controle se fará naturalmente com o novo processo de trabalho.
O clássico exemplo do Dr. Edward Deming, (foto) mentor da revolução industrial Japonesa dos anos 60, em que ele colocava 30 bolinhas vermelhas e 70 bolinhas brancas num saco e pedia para alguém da platéia sortear somente bolas brancas. Cada vez que se sorteava um bola vermelha ele se zangava muito, ao que o voluntário da platéia retrucava : Mas foi o senhor que colocou 30 bolinhas vermelhas no saco ! Porque se zanga tanto ?
Isto é o Tao ! É enxergar a verdade do processo!
“30 raios compartilham o mancal da roda;
É o orifício central que torna útil a roda.
Molde o barro em forma de pote;
É o espaço interno que torna útil o pote.
Corte janelas e portas na parede do quarto;São os vazios que fazem as janelas e portas úteis.
Portanto, o lucro vem do que esta lá;
A utilidade vem do que não esta lá.”
Neste verso magistral, Tzé procura dar ao leitor uma idéia sobre a ilusão da rigidez da matéria e sua inutilidade, ao mesmo tempo que mostra a enorme significância e riqueza do vazio, do nulo.
“Deus fez o mundo a partir do nada, mas o nada transparece, as vezes.”
CRISTIANÍSMO
Cristo
“Bem aventurados os puros de coração porque eles verão a Deus”.
“Vinde a mim as criancinhas, pois delas será o reino dos céus”.
“Ofereça a outra face”.
“Senhor, perdoai-os, eles não sabem o que fazem”.
Cristo parece indicar que devemos evitar as falsas emoções, ser como criancinhas, abdicar do intelecto, ser puros de pensamento, não revidar. Porém, ele percebe que não estamos totalmente preparados para entender estas regras e pede tempo ao Senhor.
Meister Eckhart (1260-1327) - Místico Cristão.
“O Homem tem muitas peles em si mesmo, que lhe cobrem as profundezas do coração. O homem conhece tantas coisas, mas não conhece a si mesmo. Ora, trinta ou quarenta peles ou couros, inteiramente semelhantes aos de um boi ou de um urso, igualmente grossos e duros, recobrem a alma. Penetre no seu próprio fundamento e aprenda ali a conhecer-se”.
Eckhart fala sobre as mascaras do nosso Ego, que encobrem a verdade divina, verdade esta que já está dentro de cada individuo.
Eckhart continua:“O conhecedor e o conhecido são um só. As pessoas simples imaginam que devem ver a Deus, como se ele estivesse ali e eles aqui. As coisas não são assim. Deus e eu somos um no conhecimento”.
Mais uma vez a unicidade do Cosmos e o Deus interior é explicado.
Santa Catarina de Siena (1347 - 1380) Toscana - Italia
“Tu és o que não é. Eu sou o que sou. Se perceberes essa verdade em tua alma, o inimigo nunca te enganará; escaparás a todas as suas armadilhas”.
Catarina diz que o que pensamos ser é ilusão. Uma vez descoberta a ilusão, nos tornamos muito poderosos.
Santa Catarina de Gênova (1447 - 1510)
“O meu Eu é Deus, nem eu reconheço outro Eu que não seja meu Próprio Deus”.
Mais uma vez se afirma que nós somos Deus, temos um Deus dentro de nós.
SUFÍSMO
Bayazid de Bastam (875 DC)
“Fui de Deus a Deus, até que eles gritaram de mim em mim: ‘ Ó Tu Eu!’”.
Bayazid confirma que somos o próprio Deus.
Em busca do Amor eu perambulei longe e vasto,
De pensamento em pensamento e de medo em medo eu fui.
Até a incansavel instancia do orgulho tolo,
Miríades de momentos sem rumos eu gastei,
Até que ví nos olhos daquele que viu
A maravilha da luz do Amor em sua face,
E do seu olhar, tres pistas vislumbrei,
Tres gemas que apontam para nossa suave graça:
- A primeira, é que “Eu” nunca poderei ir lá;
- A seguinte, que o orgulho do Amor deve ser extinto;
- A ultima pista, encontra-se enterrada dentro de mim...
Enquanto “Eu” continue a existir,
O sol que procuro estara encoberto pelas nevoas de mim mesmo!
Neste lindo poema, Camran mostra que é preciso antes de tudo parar de pensar em si como algo separado do resto, é preciso que "EU" deixe de existir para vislumbrarmos Deus.
“Quando o coração chora o que perdeu, o espírito ri-se com o que achou.”
As emoções nos enganam, porém muito nos ensinam. Formam parte da didática Divina.
Djalal al-Din Rumi
“Por que disseste: ‘ Tenho pecado tanto, e Deus, em sua misericórdia, não puniu meus pecados’?
Quantas vezes te golpeio sem que saibas !”
...
Djalal mostra que o pecador (ignorante da verdade divina) está tão distante da verdade que nem percebe que está sendo punido. Ilusão total.
ISLAMÍSMO
Kabir
“Benares fica a leste, Meca fica a oeste: explora, porém, o teu próprio coração, pois lá estão ambos, Ram e Alá.”
“Contempla apenas Uma em todas as coisas: a segunda é que te extravia.”
Kabir também confirma que somos o próprio Deus e que ele habita o nosso coração. Fala também na unicidade do Cosmos.
JUDAÍSMO
Isaías 1, 16
Lavai-vos e purificai-vos; tirai a maldade de vossos atos !
Cessai de fazer o mal e aprendei a fazer o bem.
Salmo 139
Para onde me irei do teu espírito ?
Para onde fugirei da tua presença ?
Se subo aos céus, aí estás; se fizer meu leito nas profundezas, ali também estás.
Se tomar as asas da manhã e partir rumo aos limites mais remotos do mar, ainda ali a tua mão me guiará, e tua mão destra me sustentará.
Se eu disser: “ É certo que as trevas me encobrirão, e a luz que me cerca se tornará noite”, nem as trevas são escuras para ti; pois as trevas e a luz são para ti a mesma coisa.
Salmo 37
Não te indignes com teus malfeitores, nem invejes os que praticam iniqüidades, pois eles cedo serão ceifados como erva e murcharão como pasto. Confia no Senhor e fazei o bem; habita a terra e vive tranqüilo.
Deleita-te no Senhor e Ele te concederá os desejos do teu coração.
Os profetas judeus estão ensinando o povo a acalmar-se, purificar-se de maus pensamentos, não ser vingativo, ou seja, diminuir as vibrações.
Também se mostra claramente a onipresença divina simbolizando o Deus interior e a unicidade do cosmos.
ZEN-BUDISMO
Um poema Haiku, de Basho (Japão 1644-1694) (desenho), o grande poeta Zen, diz tudo na tradução de Allan Watts:
“Um velho poço,
a rã pula dentro –
plóp.”
É Brahman saciando a sua sede de conhecer tudo ! É a realidade pura e simples. Com a onomatopéia “plóp”, Basho captura o momento em toda a sua plenitude. O Zen é a doutrina do momento, do agora.
Em suma, todas as doutrinas religiosas, em sua filosofia esotérica, tratam de guiar-nos sobre as regras do sistema para experienciarmos o conhecimento no menor tempo e alertam para se evitar a ilusão causada pelos sentidos, pelos nomes, pelas palavras e pelas emoções. As regras parecem indicar que quanto menor a vibração melhor, ou seja, quanto menos reagimos às falsas emoções mais rápido captaremos as verdadeiras emoções do conhecimento necessário. - Plóp !
O Zen acrescenta também, a seguir, que nós somos Deuses, imortais faíscas de Brahman, e que temos de nos soltar ao desconhecido, sem medo, para provar da experiência, do conhecimento.
Chuang Tzu, o sábio chinês contemporâneo de Lao Tzé e de Confúcio, (cerca de 400 ac.) nos diz para vagarmos livres pelo mundo.
“Não sejas a corporificação da fama;
não sejas um depósito de maneirismos;
não sejas um fazedor de projetos;
não sejas o dono do saber.
Vagues por onde não há trilhas.
Agarra-te a tudo que receberes dos céus, mas não consideres que recebestes coisa alguma.
Sejas vazio, isto é tudo.
O homem perfeito usa a sua mente como um espelho – nada perseguindo, a nada dando boas vindas. Respondendo, mas não guardando.”
Alias, Chuang Tzu foi o primeiro anarquista e acreditava que as coisas não precisavam de ordem nem de governança, tudo daria certo no final. Seus livros tinham sempre humor e tiradas interessantes. Vejam esta:
E de repente, eu acordei...
Agora eu não sei se eu era certa vez um homem sonhando que era uma borboleta
Ou se agora eu sou uma borboleta sonhando que sou um homem..."
As filosofias Orientais parecem ser mais claras e diretas que as Ocidentais quando se trata da explicação do nosso mundo, mas, na verdade, como vimos pela pequena amostra acima, a Filosofia Judaico-Cristã do Velho e do Novo Testamento, a Sufi e a Islâmica também nos guiam da mesma maneira e na mesma direção, embora sendo Monoteístas (crêem num Deus criador único e externo ao mundo) e não Panteístas(crêem que tudo é parte de Deus, inclusive as pessoas e animais, e portanto permitem a adoração de qualquer objeto com a finalidade de se atingir a verdade).
O que se percebe nos misticos das religiões monoteístas é que eles interpretam o Deus único de uma maneira a considera-lo também onipresente como no Panteísmo, o que nos leva a um passo a mais na unificação de todas as religiões na Philosophia Perennis.
Em resumo, a Philosophia Perennis, nos fornece 3 pistas para encontrarmos o fio da meada e conseguirmos atingir a compreensão e o conhecimento mais rápido:
2- Tudo no Cosmos é Uno, isto é, tudo está interligado, não existem indivíduos separados ou coisas separadas. Tudo influi em tudo. A separabilidade é uma ilusão.
3- Os nossos sentidos mentem ou são ilusões. São como barreiras que impedem de enxergarmos a verdade divina do Cosmos, sua lógica e suas regras. São barreiras para impedir de usufruirmos os poderes divinos (1) de que dispomos.
A Philosophia Perennis, “suco” de todas as religiões, nos fornece as seguintes recomendações para nos desvencilharmos destas barreiras ilusórias:
a- Perder o medo de experimentar, viver, arriscar. Se “jogar” sem calcular onde iremos cair. (Não tente fazer isso sozinho...)
b- Treinar para não se deixar levar pelas emoções nem pelos sentidos. Existem varias técnicas para isto, em todas as religiões. Aviso: Este treinamento levará alguns anos, com certeza.
c- Considerar o seu inimigo como sendo você mesmo. Afinal tudo é Uno. Na lógica divina não há inimigos, há diversidade.
Para estragar a festa, sempre tem uma dificuldade a mais no jogo:
- O que é bom para o Plano Divino (ideação de Shiva) nem sempre é bom para o individuo, em sua estada como ponta de prova, neste Universo.
Ou seja, podem acontecer fatos ou eventos que pareçam castigo ou má recompensa pelos nossos atos aparentemente corretos.
Muitas vezes os bons ficam doentes e os maus saem vitoriosos, os bons vão a falência e os maus ficam ricos, etc.
O Plano Divino, como todo Plano Mestre, ( lembre-se : Assim embaixo como encima) contém informação de uma visão mais ampla do que o Plano do Individuo, ou o Plano de uma Etapa do trabalho.
Notas:
(1) Para os mais céticos, que se recusam a aceitar o conceito de “Poderes Divinos”, sugiro substituir por Poderes de Alta-Complexidade Cósmica. Estou convencido de que, no futuro, se houver alguma definição científica para Deus, está será na linha da Altíssima Complexidade. Deus é divino, simplesmente porque é tão complexo que se torna divino.
4 comentários:
Amei o blog! Alto nível, parabéns!
Obrigado Rosemary!
Gratidão por compartilhar seu conhecimento.
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